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Berberina e probiótico podem ser eficazes na melhora da hiperlipidemia pós-prandial em pacientes com diabetes tipo 2

A hiperlipidemia é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principalmente quando combinados com outros fatores como hiperglicemia, resistência à insulina e diagnóstico de diabetes tipo 2 (DM2). Estudos recentes têm apontado a importância da avaliação do nível de lipidemia do paciente sem jejum (LSJ), que é constituído principalmente pela lipidemia pós-prandial (LP) e estes resultados como um sinal de alerta para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principalmente quando combinados com diabetes e resistência à insulina.

Os resultados de Lipidemia em Jejum (LJ) são derivados em sua grande maioria de lipoproteínas advindas do fígado, enquanto as alterações de LP são advindas da absorção  de lipídios à nível intestinal, lipoproteínas e quilomícrons, sugestivamente, estes resultados podem estar interligados com a microbiota intestinal, que por sua vez, está intimamente ligada com o metabolismo lipídico do hospedeiro.

Seria um tratamento integrado com ativos naturais e probióticos uma saída para o controle da hiperlipidemia pós-prandial? Já reconhecida cientificamente, a berberina (BBR) é um alcalóide vegetal, utilizado na medicina chinesa, conhecida por aumentar a captação de LDL no fígado. Probióticos por sua vez, mais especificamente, cepas de Bifidobactérias, também amplamente reconhecidos na literatura, podem atuar sobre o perfil lipídico, bloqueando absorção intestinal ou mudando sinalizações do ácido biliar do hospedeiro. 

Tanto berberina quanto probióticos são definidos como hipolipemiantes nutracêuticos, mas seriam eles influenciadores de LSJ e possíveis candidatos para o tratamento complementar de hiperlipidemia pós-prandial? Estudo recente buscou avaliar os índices de lipidemia pós-prandial em pacientes com DM2 e o uso de um combinado de berberina e probióticos como possível tratamento.

Estudo clínico randomizado, controlado e duplo-cego, realizado na China, recrutou 365 pacientes com recém-diagnóstico de DM2 e os separou-os aleatoriamente em 4 grupos: Grupo placebo (PLAC), Grupo Probióticos (PROB), Grupo Berberina (BBR) e Grupo de probióticos combinados com berberina (PROBBR), avaliando o controle glicêmico e controle de lipidemia em cada um deles. Foi realizada uma intervenção de 3 meses, coletas de sangue e de amostra fecal para sequenciamento de microbioma.

Os pacientes tinham idade média de 52 anos, com IMC médio de 25 kg/m²  e diagnóstico de DM2 com HbA1c ≥6,5% e ≤10,0% e glicemia de jejum ≥7,0 mmol L−1 (126,1 mg/dl) e ≤ 13,3 mmol L−1(239,6 mg/dl), foram excluídos pacientes com disfunções hepáticas, função renal prejudicada, doenças ou insuficiência cardíacas graves, complicações diabéticas, problemas psiquiátricos, infecções e anemias graves.

Os tratamentos foram administrados durante 12 semanas, com uma visita presencial a cada 4 semanas para coletas, onde a administração foi de:

  1. Grupo PROBBR: 0,6g de berberina em 6 comprimidos, duas vezes ao dia antes de uma refeição + 4g em 2 sachês de probiótico em pó composto de Bifidobacterium longum CGMCC Nº 2107; Bifidobacterium breve CGMCC No. 6402; Lactococcus gasseri CGMCC No.10758; Lactobacillus rhamnosus CNCM I-4474; Lactobacillus salivarius CGMCC No. 6403; Lactobacillus crispatus CGMCC No. 6406; Lactobacillus plantarum; CGMCC No. 1258; Lactobacillus fermentum CGMCC No. 6407 e Lactobacillus casei CNCM I-4458; cada sachê contém ≥50 bilhões de UFC de bactérias vivas e liofilizadas, uma vez ao dia ao deitar;
  2. Grupo PROB:  4g em 2 sachês de probiótico em pó (descritos anteriormente), uma vez ao dia ao deitar;
  3. Grupo BBR: 0,6g de berberina em 6 comprimidos, duas vezes ao dia antes de uma refeição;
  4. Grupo  PLAC: comprimidos placebo + sachês em pó placebo;

 Foram coletadas amostras de sangue para medir a lipidemia pós-prandial, 120 minutos após a ingestão de uma refeição padrão com 100g de carboidratos.

Os pesquisadores descobriram que o nível de colesterol, triglicerídeos, LDL e HDL dos participantes de ambos os grupos de avaliação eram semelhantes estatisticamente, antes da intervenção. O grupo PROBBR demonstrou diferenças significativas da composição lipidômica dos demais grupos de intervenção (P=<0,001), sendo identificados 31 metabólitos lipidômicos significativamente alterados pelo tratamento, e destes 31, 20 foram diferentes da linha de base do tratamento, colocados então, como os principais metabólitos responsivos ao tratamento, dentre eles, ácidos graxos de cadeia longa a média (FFAs), lisoglicerofosfatidilcolina (LPC), acil-carnitinas, lisoglicerofatidiletanolamina (LPE), glicerofosfatidilcolina (PC),  glicerofatidiletanolamina (PE).

Como conclusão, o tratamento conjunto de Probiótico e Berberina foi associado a mudanças de metabólitos lipídicos, fortemente associados com a melhora de padrões de LDL e colesterol pós-prandial, de glicemia e triglicerídeos (em menor escala), podendo contribuir para a diminuição geral nos níveis de lipidemia pós-prandial em pacientes com DM2.

Artigo:

Shujie Wang, Huahui Ren, Huanzi Zhong, Xinjie Zhao, Changkun Li, Jing Ma, Xuejiang Gu, Yaoming Xue, Shan Huang, Jialin Yang, Li Chen, Gang Chen, Shen Qu, Jun Liang, Li Qin, Qin Huang, Yongde Peng, Qi Li, Xiaolin Wang, Yuanqiang Zou, Zhun Shi, Xuelin Li, Tingting Li, Huanming Yang, Shenghan Lai, Guowang Xu, Junhua Li, Yifei Zhang, Yanyun Gu & Weiqing Wang (2022) Combined berberine and probiotic treatment as an effective regimen for improving postprandial hyperlipidemia in type 2 diabetes patients: a double blinded placebo controlled randomized study, Gut Microbes, 14:1, DOI: 10.1080/19490976.2021.2003176
Link: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/19490976.2021.2003176