Um estudo conduzido na Itália, na Espanha, no Chile, na Colômbia e no Brasil identificou que o confinamento devido à pandemia de covid-19 influenciou os hábitos alimentares de adolescentes.
Os pesquisadores avaliaram 820 adolescentes entre 10 e 19 anos de idade que responderam questionários on-line de forma anônima onde registraram o número de dias que consumiram legumes, vegetais, frutas, doces, frituras, alimentos processados, bebidas adoçadas com açúcar e fast food na semana anterior ao início do confinamento e ao longo de uma semana durante o confinamento. Também foram coletados dados sociodemográficos e características das famílias.
Os resultados mostraram que o número de adolescentes consumindo a quantidade semanal de legumes recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aumentou durante o isolamento social decorrente da pandemia: enquanto 22,7%, 15,4% e 6,1% dos participantes indicaram ter consumido, respectivamente, duas, três ou quatro porções de legumes na semana anterior ao início do confinamento, durante a pandemia a proporção de consumo de porções deste tipo de alimento aumentou para 25%, 16% e 7,4%, respectivamente.
A frequência de consumo de vegetais também aumentou, passando de 35,2% para 43,0%. O mesmo aconteceu com as frutas: antes do confinamento apenas 25,5% dos jovens comiam pelo menos um pedaço de fruta por dia, mas, durante a pandemia, essa taxa subiu para 33,2%.
Os participantes reduziram ainda o consumo de fast food: antes do isolamento social apenas 44,6% dos adolescentes relataram que consumiam esse tipo de alimento menos de uma vez por semana, porém, durante a pandemia essa taxa passou para 64,0%.
Em contrapartida, antes da pandemia, 14% dos jovens relataram comer doces todos os dias, uma percentagem que aumentou para 20,7% durante a pandemia. De forma similar, a taxa de adolescentes que comeu frituras quatro dias na semana passou de 7,4% para 8,8%.
Além disso, assistir televisão durante as refeições também foi relacionado com menor consumo de vegetais e frutas, e maior consumo de frituras, doces e bebidas adoçadas com açúcar durante o confinamento.
Os resultados observados no estudo podem sugerir que, durante o confinamento, as famílias passaram a utilizar a comida como uma forma de recompensa. Por estarem mais tempo em casa e, diante da situação emocional gerada pelo confinamento, parecem estar mais ansiosas, e algumas compensando na ingestão de doces e frituras. O ponto positivo da quarentena foi o resgate do hábito de cozinhar em casa, mas enquanto profissionais, é importante orientar as famílias para que façam escolhas adequadas, com menos uso de alimentos ultraprocessados e excessivamente calóricos e a investir também nas práticas de estilo de vida saudável.
Referência
Ruiz-Roso MB, de Carvalho Padilha P, Mantilla-Escalante DC, et al. Covid-19 Confinement and Changes of Adolescent’s Dietary Trends in Italy, Spain, Chile, Colombia and Brazil. Nutrients. 2020;12(6):1807.