A obesidade vem sendo tratada como uma pandemia mundial e atraindo olhares do mundo todo como um grave problema de saúde pública. Essa crescente enfatiza a necessidade de um tratamento de intervenção multidisciplinar, que induza a perda e controle de peso e que diminuam os riscos de comorbidades relacionadas à obesidade, como doenças cardiovasculares, diabetes, dislipidemia, aumento de pressão arterial, entre outras doenças crônicas.
A restrição de ingestão calórica, já bem conhecida como plano de intervenção e tratamento para obesidade, é geralmente direcionada a um déficit de 10 a 40% da necessidade calórica estimada diária do paciente com obesidade e sobrepeso, a depender de estratégias individualizadas do nutricionista, e estudos mostram uma melhora em padrões metabólicos sendo notados em perdas de 5% do peso corporal inicial, sendo ainda maiores com a progressão da perda de peso.
Diversos estudos já foram realizados visando a resposta para o melhor protocolo, a melhor média de diminuição calórica ou a composição de macronutrientes das intervenções nutricionais, mas a composição qualitativa da dieta ainda é pouco explorada no mundo acadêmico. Por este motivo, um estudo buscou avaliar o impacto de uma dieta de redução de ingestão calórica diária com adicional de nutrientes importantes para a saúde de importantes órgãos metabólicos, incluindo fibra, proteína de soja, MUFAs e PUFAs para investigar possíveis efeitos adicionais que esses elementos trariam.
Foram selecionados pacientes 110 pacientes sem problemas de saúde anteriores (diabetes, alcoolismo, tabagismo, peso corporal instável), com obesidade abdominal (IMC > 27 kg/m² ou circunferência de cintura > 88cm para mulheres e > 102cm para homens)), sendo eles homens e mulheres de 40 a 70 anos.
O estudo foi uma intervenção de desenho paralelo e randomizado, que avaliou os pacientes em três diferentes grupos durante 12 semanas, avaliando o desenvolvimento de fatores de riscos metabólicos e a perda de peso:
- Grupo 1 (n=40): restrição calórica de 25% da necessidade calórica diária + alta densidade de nutrientes (dieta enriquecida com MUFAs (13,4), n-3 PUFAs (7,7), fibra (3,1) e proteína vegetal (10. 3) e reduzido no teor de frutose (3,4)).
- Grupo 2 (n=40): restrição calórica de 25% da necessidade calórica diária + baixa densidade de nutrientes (presença de MUFAs (9,3), n-3 PUFAs (4,1), fibra (2,2) e proteína vegetal (5,7) e teor de frutose (7,0)).
- Grupo 3 (n=30): dieta habitual
Ambos os grupos foram orientados a manterem uma rotina saudável de atividade física, os pacientes do Grupo 2 receberam 1 cápsula diária de 400mg de EPA e 300mg de DHA para enriquecerem a dieta. Todos os pacientes tiveram um acompanhamento semanal presencial de uma nutricionista treinada para o trabalho, com avaliação de recordatório alimentar, exames de sangue, aferição de pressão arterial, ritmo de batimentos cardíacos e biópsia do tecido adiposo, que foram coletados antes e depois das 12 semanas de intervenção para comparar os efeitos metabólicos da dieta enriquecida ou não nos pacientes recrutados.
Após 12 semanas, uma perda de peso foi significativamente notada entre os grupos 1 e 2 (p<0,001), induzindo uma perda de peso de 6,3kg (± 3,9) no grupo 2 (p<0,001) e 8,4kg (± 3,2) no grupo 1 (p<0,001), nenhuma alteração de peso corporal foi significativamente notada no grupo 3 (+0,8 kg ± 1,7; p= 0,018). No grupo 2, 75% dos participantes (n=30) perderam mais do que 5% do peso corporal inicial, enquanto 21% (n=8) perderam mais de 10%. No grupo 1, de dieta isocalórica enriquecida, 85% (n=29) dos pacientes perderam mais que 5% do peso corporal inicial e 38% (n=13) perderam mais de 10%. Ambos grupos (1 e 2) desenvolveram alterações nas principais vias biológicas do tecido adiposo e reduziram a expressão de genes envolvidos na síntese de lipídios, colesterol e oxidação de ácidos graxos, novamente, notados em maior escala no grupo 1.
Após as 12 semanas, exames sanguíneos mostraram que houve uma mudança significativamente maior nos valores de triglicerídeos em jejum (p<0,001) e colesterol total sérico (p=0,014) quando comparado o grupo 1 com o grupo 2 e ambos os grupos melhoraram o perfil lipídico geral dos pacientes. Os níveis de glicose plasmática em jejum também apresentaram diferenças entre os grupos 1 (p=0,018) e grupo 2 (p=0,002) e a insulina do grupo 1 (p=0,005) foi menor do que no grupo 2 (p=0,018). A redução de gordura corporal foi semelhante em ambos os grupos de intervenção dietética.
Os pesquisadores concluíram que uma intervenção nutricional com restrição calórica é importante para a perda de peso e controle da obesidade, tendo uma dieta de alta densidade nutricional verifica-se adicionais benefícios para a saúde do paciente.
