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Microbiota intestinal pode ser preditiva sobre mudança do perfil de gordura corporal em dietas de restrição calórica?

Sobrepeso e obesidade são os mais graves problemas de saúde pública, segundo o Ministério da Saúde, tendo aumentado 72% no Brasil nos últimos 13 anos. O tratamento deve ser multidisciplinar e abordar diversas condutas. Do âmbito nutricional, o principal tratamento e com maior eficácia para perda de peso, são as dietas de restrição calórica (DRC).

A perda de peso programada por DRC são eficazes para a perda de peso, mas apresentam grande variação entre os indivíduos, mas esses fatores influenciadores do resultado são amplamente esclarecidos? Evidências científicas recentes sugerem que a microbiota intestinal pode ter grande influência nos resultados metabólicos da DRC sobre o hospedeiro.

Pela hipótese levantada, um estudo visou descobrir qual o papel da microbiota intestinal no tratamento da obesidade baseado em DRC. O estudo PRIVIEW foi feito em 8 países, com intervenção de estilo de vida de 3 anos, compreendendo 2 fases de intervenção. Foram classificados 211 indivíduos com IMC médio de 34,1 kg/m² e pré-diabetes (critério utilizado foi da ADA – Sociedade Americada de Diabetes), com idade média de 54 anos.

Critérios de exclusão foram pacientes com diagnóstico de diabetes, doenças cardiovasculares, hepáticas, gastrointestinais, renais, gravidez ou amamentação, uso de antibióticos, cirurgia bariátrica ou qualquer tipo de cirurgia, 3 meses antes ou durante o estudo.

A fase 1 teve intervenção de 8 semanas usando DRC, com meta de perda de 8% ou mais do peso original dos indivíduos para que eles fossem classificados para a fase 2. A fase 2 consistiu em uma intervenção de 148 semanas sobre o estilo de vida, dieta, atividade física e comportamento alimentar para a manutenção do peso perdido.

Na fase 1 os participantes receberam 3 sachês de substituição total de refeição com 810 kcal/dia, composto por 44% de proteína, 41% de carboidrato e 15% de gordura, o conteúdo total de fibras ofertado foi de 13,3g/dia. O consumo de no máximo 400g de vegetais sem amido, tomate, pepino e alface foram permitidos, recalculando as calorias totais para 1000 kcal/dia.

Antes e após a fase 1 foram feitas coletas de dados antropométricos, amostras de sangue em jejum, amostras fecais, e recordatório alimentar de 4 dias para verificar a aderência. O DNA foi extraído das amostras fecais e o sequenciamento da composição microbiana foi analisado.

Como resultados de intervenção, os pesquisadores notaram que os indivíduos perderam em média 11,5% de peso corporal e 22% de de gordura corporal com DRC programada, apresentando melhora em todos os padrões metabólicos avaliados. Dos indivíduos, 76 (36%) reverteram o pré-diabetes para normoglicemia. 

Os membros do filo bacteriano Firmicutes dominaram a microbiota intestinal antes da intervenção com DRC (86%±11; média±DP), seguidos por Actinobacteria (9%±9) e Bacteroidetes (2%±3). Verrucomicrobia e Proteobacteria juntas representavam em média menos de 3% da microbiota avaliada. Foi notada uma alteração marcante pós intervenção com DRC, sugerindo que há uma resposta microbiana as alterações no perfil alimentar feito pela DRC,com aumentos significativos de Verrucomicrobia e Bacteroidetes ( P <0,001) e diminuições concomitantes em Actinobacteria e Firmicutes ( P <0,001). Após o ajuste, as mudanças no IMC e no peso corporal foram associadas positivamente com a mudança na abundância de Pseudobutyrivibrio (P <0,01) e negativamente com o grupo Christensenellaceae R7 (P = 0,03).

Como conclusão os autores avaliaram que houve contribuição da variedade da microbiota intestinal para perda de peso induzida por dietas de restrição calórica (DRC), juntamente com outros fatores ambientais, mas sugerem que uma avaliação diária da microbiota fecal seria melhor preditora de alterações da composição corporal e mais estudos devem ser feitos.

Referência: Jian C, Silvestre MP, Middleton D, Korpela K, Jalo E, Broderick D, de Vos WM, Fogelholm M, Taylor MW, Raben A, Poppitt S, Salonen A. Gut microbiota predicts body fat change following a low-energy diet: a PREVIEW intervention study. Genome Med. 2022 May 23;14(1):54. doi: 10.1186/s13073-022-01053-7. PMID: 35599315; PMCID: PMC9125896. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9125896/