O câncer de cabeça e pescoço (CCP) é o oitavo tipo de câncer mais comum no mundo e o seu desenvolvimento está ligado a diversos fatores, tendo mais de 900.000 pacientes diagnosticados por ano.
Os efeitos colaterais das terapias antineoplásicas e impactos hipermetabólicos da doença alcançam taxas de 30 a 80% dos pacientes cursando com desnutrição, sendo esse, um dos grupos mais suscetíveis à desnutrição quando falamos de câncer.
A localização do tratamento do CCP acarreta em efeitos colaterais que impactam diretamente no consumo alimentar e ingestão de nutrientes do paciente, como alteração do paladar, ressecamento da cavidade oral, mucosite, náuseas, vômitos e perda de apetite. Estudos mostram que a perda de peso crítica (>5%) durante o tratamento afeta 66% dos pacientes.
Recomendações nutricionais apontam para 1,2 g/kg/dia de proteína e 30 kcal/kg/dia e o monitoramento, aconselhamento e acompanhamento nutricional são essenciais para o prognóstico destes pacientes. Por este motivo, um estudo buscou avaliar qual impacto com aconselhamento nutricional como um tratamento na vida destes pacientes.
Foi realizado um aconselhamento nutricional presencial entre o paciente e um nutricionista, cada paciente recebeu um aconselhamento dietético individualizado para atingir as suas necessidades calóricas e proteicas diárias. Os pacientes que não conseguiram atingir 80% das suas necessidades por via oral, receberam um suplemento nutricional oral (SNO) e os pacientes que não conseguiram manter o peso corporal mesmo com SNO foram indicados para suporte nutricional enteral ou parenteral.
A ingestão calórica e proteica, peso corporal e estado físico e mental foram levados em consideração como indicadores do acompanhamento e foram avaliados no início do estudo, em duas, quatro e seis semanas após o início da terapia antineoplásica. Recordatório 24h foi utilizado como medidor de ingestão alimentar e o estado físico e mental foram avaliados pelo score do Karnofsky Performance Status (KPS) e na Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS).
Um total de 61 pacientes foram avaliados e foram distribuídos em grupo controle (n=29) e grupo de aconselhamento nutricional (AN) (n=32). No grupo controle, 2 pacientes estavam no estágio III e 27 no estágio IV, e no grupo AN, 2 pacientes estavam no estágio III e 30 no estágio IV da doença. Eram homens 81,97% dos pacientes e a idade média dos participantes era de 51,67 anos. A maioria dos pacientes foram diagnosticados com câncer de nasofaringe (83,61%) e todos os pacientes sofreram de mucosite em diferentes estágios.
A ingestão de calorias foi significativamente melhor no grupo AN quando comparado ao grupo controle, a partir da 4 semana de avaliação (p<0,05) e o mesmo aconteceu com a manutenção de ingestão proteica. Esses resultados acarretaram em uma perda de peso foi mais grave no grupo controle (p<0,01).
Os pesquisadores descobriram também que altas taxas de depressão e ansiedade foram notadas após a introdução do tratamento neoplásico e esse aumento foi notado a partir da 4° semana de avaliação, diminuindo a partir da 6° semana. O grupo de aconselhamento nutricional apontou uma melhora nesses distúrbios emocionais.
Os dados concluem que o aconselhamento nutricional ajudou a manter uma melhor qualidade de ingestão calórica, proteica e de nutrientes, contribuiu para uma menor perda de peso, um melhor prognóstico e um menor impacto psicológico e físico em os pacientes com CCP que enfrentam efeitos colaterais complexos quanto a doença e ao tratamento neoplásico.
Mesa do Ganepão: (SIMPÓSIO) Intervenções nutricionais no câncer: do diagnóstico à intervenção
1. Alterações dietéticas após o diagnóstico do câncer mudam o curso da doença?
2. Intervenções dietéticas previnem o câncer: Mitos e verdades
3. Quais Intervenções nutricionais não devem ser utilizadas durante a quimioterapia?