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Assinatura fecal em microbiota tem alta especificidade com câncer de pâncreas

O adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) é a apresentação mais comum do câncer pancreático e se torna uma das principais causas de mortes relacionadas ao câncer. Isso pode ser relacionado com o frequente diagnóstico tardio da doença, localização de difícil ressecção ou apresentarem-se como uma doença metástica.

Efeitos de risco do desenvolvimento de PDAC incluem a idade, pancreatite, diabetes melitus, obesidade, asma, grupo sanguíneo e estilo de vida, como por exemplo o sedentarismo, tabagismo e etilismo.

O método de diagnóstico mais utilizado para diagnosticar PDAC utilizado hoje em dia é o exame de imagem, porém, exames mais sensíveis e acessíveis podem melhorar o tempo e precisão do diagnóstico da doença. Estão sendo explorados testes de urina, exploração de tecido pancreático e soro. Até o momento, a única avaliação que a Food and Drug Administration (FDA) aprovou é a utilização de soro antígeno de carboidrato 19 (CA 19-9), mas esse marcador pode sofrer influências diversas, por isso, é utilizado somente para vigilância de PDAC, mas não diagnóstico concentro.

O pâncreas abriga um microbioma específico e compartilha essas espécies com boca e intestino, porém essa relação permanece indefinida, devido aos desafios associados à análise de amostras e a contaminação das mesmas. Em modelos feitos em ratos, microrganismos originários do intestino poderiam estar relacionados com o câncer pancreático. Além disso, o microbioma pancreático pode estar associado com a progressão e sobrevida a longo prazo da doença.

Um estudo espanhol prospectivo, com dados de 2016 a 2019, visou avaliar as assinaturas deste microbioma em 57 pacientes recentemente diagnosticados com PDAC e sem a introdução de nenhum tratamento, 29 pacientes diagnosticados com Pancreatite Crônica (PC) e 50 pacientes de grupo controle.

Amostras de saliva, fezes e tecido pancreático (normal e tumoral) foram coletados para avaliar a composição do microbioma presente.

Os resultados encontrados foram surpreendentes:

  • A composição do microbioma foi interferido pelo estilo de vida e doença habitual dos pacientes, sendo a idade o fator mais relevante (p=0,03), seguido pelo diabetes (R2=0,01, p=0,04), icterícia (R2=0,02, p=0,009) e por último, com menor relevância, presença de aspirina / paracetamol (R2=0,02, p=0,04) na saliva e nas fezes.
  • Sob ajustes de variáveis de idade e sexo, o estado da doença foi levemente, mas estatisticamente significativamente associado à composição da comunidade nas fezes (R2=0,02, p=0,001), porém, não na saliva (R2=0,01, p=0,5).
  • A composição do microbioma fecal dos pacientes com PDAC diferiu de ambos os grupos comparados, os controles (R2=0,02, p = 0,0001) e pacientes com PC (R2=0,02, p=0,003), embora os resultados demonstrem pequenos efeitos.
  • Com maior predominância no microbioma fecal de pacientes com PDAC foram encontrados os seguintes microrganismos: Veillonella atypica , Fusobacterium nucleatum/hwasookii e Alloscardovia omnicolens, enquanto Romboutsia timonensis, Faecalibacterium prausnitzii, Bacteroides coprocola e Bifidobacterium bifidumgrupos foram encontrados em menor ou nula quantidade.
  • Nenhuma diferença significativa foi avaliada no microbioma salivar.

Os autores concluíram que apesar de o único biomarcador comprovado de rastreamento de PDAC ser o CA 19-9, ele pode ser variável em condições não relacionadas ao câncer pancreático. Os resultados sugerem que, na prática, o microbioma fecal pode ser utilizado complementarmente como marcador diagnóstico de PDAC, inclusive, a combinação de uma análise do microbioma fecal em conjunto com a análise sorológica de CA 19-9 aumenta significativamente a chance do diagnóstico preciso da doença.