A complexidade do microbioma humano vem ganhando atenção dos pesquisadores, ainda mais com constantes descobertas de sua importância para a vida humana. O início da vida de um ser humano é caracterizado pela colonização microbiana, e por este motivo, a colonização precoce vem sendo questionada como uma etapa fundamental em um desenvolvimento saudável da criança, ainda mais, pensando em seu impacto abrangente e duradouro na atividade e composição microbiana pelo resto da vida adulta.
O papel da nutrição desde o início da vida tem um papel de suma importância, já que impacta o desenvolvimento da microbiota intestinal. Espécies de bifidobactérias apresentam-se em maioria na microbiota intestinal de bebês que foram amamentados, e por outro lado, há uma microbiota com espécies do filo Firmicutes (Bacillota) mais abundante em bebês alimentados à base de fórmulas genéricas compostas por leite de vaca, sem adicionais de prebióticos.
Para descobrir a dinâmica do metaboloma fecal e o funcionamento das interações entre a nutrição e as atividades da microbiota intestinal em bebês, um estudo randomizado, controlado e duplo-cego testou o uso de fórmulas lácteas infantis com adicional de uma mistura prebiótica (90% de galacto oligossacarídeos de cadeia curta e 10% de fruto oligossacarídeos de cadeia longa (scG OS/cFOS; 0,8 g/100 mL, 9:1) e pós-bióticos derivados da fermentação de Lactofidus, comparado com um grupo controle com uso de fórmula láctea infantil não fermentada e não adicionada de pré e pós-bióticos e grupo de aleitamento materno exclusivo.
Um total de 90 bebês foram selecionados por critérios de: parto normal, não fazer uso de probióticos, espessantes de leite, antibióticos e outros tipos de medicamentos que poderiam influenciar no desenvolvimento da microbiota até o fim do estudo, e divididos igualmente entre os três grupos de avaliação (n= 30 para cada grupo). As calorias das duas fórmulas eram equilibradas em 67 kcal a cada 100ml e do grupo intervenção continha adicional de 0,8g de prebiótico, 0,6g de fibra e 30% do peso seco de pós-bióticos a cada 100g.
Foram coletadas amostras fecais na entrada do estudo (de 0 a 4 meses de idade) e às 8 e 17 semanas, no máximo um dia após a ingestão da fórmula. Foram feitas extração de DNA, sequenciamento de RNAs, avaliação de parâmetros fisiológicos e análise de metabólitos fecais.
Às 17 semanas de idade, o grupo de intervenção com pré e pós-bióticos apresentou menor PH, menor quantidade de amônia, maiores quantidades de acetato e L-lactato, menor quantidade de propionato e D-lactato, menor ocorrência de ácido (iso-)butírico e ácido (iso-)valérico e maiores níveis de sIgA. No sequenciamento da microbiota fecal, às 17 semanas, o grupo intervenção comparado ao grupo controle também apresentou aumento da presença de Bifidobacterium e menor ocorrência de presença de Clostridioses difficile.
A avaliação dos metabólitos fecais identificou diferenças significativas na abundância já na entrada no estudo entre os bebês amamentados e o grupo com fórmulas lácteas (268 metabólitos) ou o grupo experimental com intervenção de prebióticos e pós-bióticos (250 metabólitos). Embora a microbiota intestinal não seja a mesma no grupo de intervenção e grupo de amamentação, as funcionalidades do microbioma se mantiveram semelhantes. De 23,7% até 51,9% dos metabólitos detectados foram diferentes entre esses grupos ao fim do estudo, e, comparando o grupo controle com o grupo intervenção no início do estudo, apenas 16 metabólitos, ou seja, 2,1% dos metabolitos detectados eram diferentes entre eles.
Os pesquisadores concluíram que é essencial entendermos mais profundamente sobre o impacto que a nutrição tem no desenvolvimento e funcionamento da microbiota intestinal do bebê, e ressaltam que, o uso de fórmulas lácteas compostas com prebióticos em conjunto com pós-bióticos desencadearam melhores respostas no metaboloma intestinal comparados aos bebês alimentados com fórmula láctea não fermentada e não adicionada de pré e pós-bióticos.
Este estudo teve apoio de indústria
