Pessoas com doença psiquiátrica grave têm de 10 a 20 anos menos de vida em comparação com a população geral. Essa diferença ocorre primariamente pela alta prevalência de fatores de risco cardiometabólico, como a obesidade, que contribuem de forma significativa para a comorbidade cardiovascular.
De acordo com novo estudo publicado no periódico JAMA Psychiatry, parece haver uma forte ligação genética entre o peso e as doenças psiquiátricas graves. Utilizando dados de mais de 500.000 pessoas com depressão, doença bipolar e esquizofrenia, pesquisadores avaliaram o grau de superposição entre as arquiteturas genéticas das principais doenças psiquiátricas e do IMC, identificando potenciais loci genéticos compartilhados.
O desfecho primário do estudo foi uma lista de loci genéticos compartilhados entre a obesidade, definida pelo IMC, e as doenças psiquiátricas graves, bem como suas vias funcionais. Foram utilizados métodos estatísticos avançados para examinar e comparar as variantes genéticas implicadas no aumento do peso corporal e nas doenças mentais graves.
Os resultados mostraram a correlação genética entre a obesidade pelo IMC e as doenças psiquiátricas graves variou significativamente. No entanto, também revelaram grande superposição genética entre o IMC e as doenças psiquiátricas. Foram 63 loci compartilhados entre a obesidade e a esquizofrenia, 17 entre a obesidade e a doença bipolar, e 32 entre a obesidade e a depressão maior.
Dos loci compartilhados, 34% na esquizofrenia tinham alelos de risco que foram associados a IMC mais alto. Em comparação, 52% dos loci compartilhados na doença bipolar tinham alelos de risco associados a IMC mais elevado, bem como 57% na depressão maior. O resto dos loci compartilhados tinham associações no sentido oposto.
Esses achados indicam que o risco genético das variantes de depressão e doença bipolar está associado principalmente ao aumento do peso, enquanto a maioria das variantes genéticas da esquizofrenia está relacionada com redução do peso.
De acordo com os autores, o que podemos concluir do estudo é que se você for suscetível ao aumento do IMC, você também estará propenso a ter depressão ou doença bipolar, mas no caso da esquizofrenia, foi na direção oposta: se você tiver risco de esquizofrenia, tem menor probabilidade de ser obeso.
Ainda de segundo os autores, esses resultados sugerem que seja possível criar instrumentos de previsão que possam informar a escolha do tratamento de acordo com o risco metabólico nas pessoas com doenças mentais graves.
Referência
Bahrami S, Steen NE, Shadrin A, et al. Shared Genetic Loci Between Body Mass Index and Major Psychiatric Disorders: A Genome-wide Association Study. JAMA Psychiatry. 2020. [Epub ahead of print]