Diabete Mellitus do tipo 2 é uma doença que afeta o mundo todo e vem de uma grande crescente conforme os anos passam. A intervenção nutricional tem um grande desempenho sobre a prevenção e tratamento do pré-diabetes e do diabetes tipo 2 e é endossada pelas diretrizes publicadas, por exemplo, a Diabetes UK (Reino Unido) e a American Diabetes Association (ADA). Dentre as recomendações das diretrizes estão: consumir vegetais com baixo teor de amido, minimizar o consumo de alimentos ricos em açúcar e de farinha refinada e levar em consideração a composição de macronutrientes da dieta e pela primeira vez, a ADA sugeriu que uma dieta com redução de carboidratos poderia ser benéfica e viável para esses pacientes.
Apesar das orientações feitas pelas diretrizes, temos poucos estudos na literatura sobre a segurança de dietas com baixo consumo de carboidratos e a validação de seus riscos e benefícios.
Um estudo intervencionista, randomizado e cruzado buscou avaliar o impacto de 2 dietas conhecidas pelo seu nível reduzido de carboidratos refinados e alimentos açucarados, assim como a quantidade total de carboidratos, a Dieta Cetogênica (DC) e a Dieta Mediterrânea (DM).
As duas dietas incorporam 3 bases semelhantes endossadas pelas diretrizes citadas acima: inclusão de vegetais sem amido, restrição de açúcares adicionados e limitação de grãos refinados. As principais diferenças das duas dietas envolvem o consumo de leguminosas, frutas e grãos integrais, pois na DC esse padrão é evitado, apesar da recomendação do consumo destes alimentos por outras sociedades pelo seu benefício a saúde cardiovascular pela adição de fibras, vitaminas, minerais e antioxidantes característicos destes grupos de alimentos.
Foram selecionados 33 indivíduos, com idade média de 60,5 anos, IMC entre 22,7 e 39,7 kg/m², 61% deles eram do sexo masculino e com diagnostico de pré-diabétes (HbA1c de 5,7 a 6,4% ou glicemia em jejum de 100 – 125 mg/dL) ou diabetes tipo 2 (HbA1c ≥6,5% ou glicemia de jejum ≥126 mg/dL). Foram excluídos pacientes com alterações no perfil lipídico, alterações de pressão arterial, indivíduos que tomavam medicamentos anti-hiperglicêmicos ou para perda de peso.
Os indivíduos foram avaliados por 12 semanas com intervenção dietética e posteriormente até às 36 semanas após a intervenção, sem nenhuma modificação dietética anterior ao início do estudo, que foi iniciado imediatamente após o recrutamento. Foram coletados exames laboratoriais para avaliar os níveis de hemoglobina glicada (HbA1c), insulina em jejum e perfil lipídico e compará-los com exames coletados ao fim e após a intervenção (pré-base, base, semana 4, 12, 16, 24 e 36), além de avaliar o grau de adesão de ambas as dietas por aplicativo.
Os indivíduos da Dieta Cetogênica foram orientados a manter o consumo de carboidratos de 20 a 50 gramas ao dia e manter a proteína em aproximadamente 1,5g por kilo de peso corporal / dia, as calorias restantes deveriam ser provenientes de gorduras, excluindo leguminosas a maioria das frutas, grãos e açúcares, e incluir 3 porções ou mais por dia de vegetais sem amido e manter boa hidratação. Os indivíduos da Dieta Mediterrânea foram orientados a evitar açúcar e grãos refinados, seguindo uma dieta prioritariamente baseada em vegetais de todos os tipos, leguminosas, frutas, grãos integrais, castanhas, sementes, peixe como proteína animal prioritária e azeite de oliva como gordura prioritária.
Os participantes receberam em suas casas, durante as 4 semanas inicias, todas as refeições necessárias para a intervenção e embora a perda de peso possa ser benéfica nesses pacientes, esse estudo não foi destinado a perda de peso, então ela não foi encorajada durante as entrevistas com os pesquisadores e não houve restrição energética durante a intervenção. Foi entregue uma média de 2.800 kcal/dia igualmente para todos os participantes, calculada como média entre a necessidade deles e o suficiente para saciá-los para que eles não procurassem outra fonte de alimentos que não fosse o ofertado pelo estudo.
As 8 semanas seguintes os participantes foram orientados a consumir suas próprias alimentações baseadas no que eles haviam consumido nas últimas 4 semanas e foi fornecido um livro de receitas para cada grupo. Após essa intervenção os indivíduos foram orientados a continuar esse padrão alimentar ou a voltar a sua alimentação comum.
Resultados da intervenção dietética:
Ao receber a dieta em casa, durante as 4 primeiras semanas, a adesão a dieta foi semelhante em ambos os grupos (DC 7,6 ± 2,1 e DM 7,3 ± 1,5) e quando o alimento deveria ser feito pelos próprios indivíduos, a adesão se manteve semelhante em ambos os grupos, mas menor do que na primeira parte de intervenção (DC 5,8 ± 2,8 e DM 5,5 ± 1,5). Foi notada uma ingestão de 250 a 300 calorias a menos durante toda a intervenção do estudo quando comparado ao que era consumido na avaliação de base do estudo.
Em avaliação de composição dietética, o grupo DC aumentou a sua ingestão de vitamina B12, C, E e ômega-3 e diminuiu sua ingestão de nutrientes de tiamina, folato e cálcio em comparação com a linha de base. Os indivíduos do grupo DM aumentaram a ingestão de folato, ômega-3 e vitaminas C e E e diminuíram sua ingestão de vitamina B12 e cálcio em comparação com a linha de base.
Resultados bioquímicos:
Os níveis de HbA1c foram reduzidos em ambos grupos mas não houve diferença significativa entre as dietas (p=0,11), para o grupo DC houve uma redução de triglicerídeos (p=0,02) e aumento significativo de LDL, enquanto o grupo DM teve uma diminuição no LDL (p=0,01). Foi observado uma tendência de melhorias para ambos os grupos, mas não houve diferenças significativas quando avaliados os dados de base e de fim de avaliação para glicemia de jejum, insulina, colesterol HDL e ALT.
Conclusões:
Os autores concluíram que ambas dietas, Dieta Cetogênica e Dieta Mediterrânea, produziram efeitos benéficos para os indivíduos e significativa redução na HbA1c, mas a intervenção de DC apresentou dados preocupantes de aumento de LDL, não sendo possível descartar os potenciais riscos cardiovasculares que essa alteração apresenta, além da diminuição de ingestão de vitaminas e minerais, muito correlacionado com a restrição de importantes grupos alimentares.
Embora o controle e redução da ingestão de carboidratos seja benéfica e recomendada para o controle da pré-diabetes e DM2, mais estudos devem ser feitos para elucidar a sua segurança e eficácia metabólica