Leucemia mieloide aguda (LMA), mais comum e mais agressivo tipo de leucemia, onde células-tronco mieloides, responsáveis por produção de células sanguíneas, são mutadas geneticamente, gerando células impossibilitadas de amadurecer, dando início a uma multiplicação descontrolada e impedindo o desenvolvimento saudável das demais células.
Estudos anteriores demonstraram que o tratamento quimioterápico em pacientes com LMA pode exercer fortes impactos na microbiota intestinal. A exposição a antibióticos durante o tratamento quimioterápico de indução, pode causar grandes rupturas na microbiota intestinal e, mesmo após a alta hospitalar e a redução do uso de medicamentos, a volta dessa homeostase intestinal ainda é incerta. Esse conhecimento é importante pois muitos pacientes passam por transplante alogênico de células-tronco tempos após o término do tratamento quimioterápico e uma redução na diversidade da microbiota intestinal pode ser preditiva de mortalidade pós-transplante.
Para essa descoberta, um estudo visou analisar a microbiota intestinal em 52 pacientes adultos hospitalizados com diagnóstico de LMA. Foram coletadas amostras de fezes 2 vezes por semana durante a hospitalização inicial para tratamento quimioterápico e nos meses 3 e 6 após alta da quimioterapia. O uso de antibióticos seguiu o protocolo tradicional de tratamento e não foi feito uso de pré e probióticos neste estudo.
A idade média dos pacientes foi de 60 anos (27-80) e 59% eram do sexo masculino. Dos pacientes incluídos no estudo, 84% eram novos diagnósticos de LMA e 16% eram LMA recidiva. O regime de quimioterapia foi 7 + 3 (convencional ou lipossomal; com ou sem agente adicional) em 35 (69%) pacientes, clofarabina à base de 9 (18%) pacientes e menos intensivo em 7 (13%) pacientes.
Em análise das 410 amostras fecais coletadas durante o estudo, os pesquisadores perceberam que a exposição aos antibióticos foi prolongada e intensa, causando alterações progressivas da microbiota quando comparadas com a linha de base durante a hospitalização inicial. O surpreendente para os pesquisadores foi a diferença da microbiota na pós-alta quimioterápica ser mantida, sendo assim, a alta hospitalar não promoveu recuperação da microbiota a longo prazo, sugerindo que as comunidades que foram cultivadas durante o tratamento quimioterápico e de alta exposição a antibióticos analisadas na alta hospitalar, foi estável e persistente a longo prazo.
Os pesquisadores concluíram que, uma grande proporção de espécies dentro de gêneros específicos são perdidos durante a hospitalização, resultando em um encolhimento geral de gêneros ao final da hospitalização. Após a alta hospitalar, as espécies perdidas foram substituídas por novas espécies, predominantemente dentro do mesmo gênero. Embora esse processo lento possa restaurar as abundâncias dos gêneros e a composição da microbiota, criaram-se novas comunidades de espécies que podem ter efeitos imprevistos sobre o hospedeiro.
Os resultados indicam também, que essas mudanças foram duradouras na microbiota intestinal pós quimioterapia de indução em pacientes com LMA e que a redução da carga de antibióticos, tratamento da microbiota ou transplante fecal podem ser necessários para não haver uma sobrecarga nas próximas fases de tratamento, como o transplante de células-tronco.